domingo, 30 de novembro de 2014

O Puto


" Aos 17 anos foi bater à porta da tropa para ser comando, e o lendário capitão Jaime Neves chamou-lhe "puto". E "Puto" ficou. Depois participou no 7 de Setembro de 1974, naquele que ficou conhecido pelo "último grito de portugalidade" em África. O grito marcou-o de tal forma que nunca mais sossegou. Prenderam-no, e evadiu-se da penitenciária. Voltaram a prende-lo e fugiu da Tanzânia antes de ser fuzilado. De refugiado na África do Sul seguiu para Angola num grupo. Assaltaram quarteis para obter armas, formaram um esquadrão chamado Chipenda, conquistaram cidades após cidades para a FNLA. Aí deixou de ser "Puto" para passar a ser Paulo, comandante Paulo. Porque "Puto" era o nome carinhoso que os angolanos davam à Metrópole. Colaborou na evacuação de Moçâmedes e ia morrendo à sede no deserto. A seguir, o Puto e os outros vieram para o Puto. Queriam apresentar a factura. E foi a altura dos atentados bombistas, uns atrás dos outros, até voltar a ser preso e condenado, primeiro a 16 e depois a 34 anos de cadeia. Mas nem o Puto nem o Paulo eram de ficar presos. Cavaram um túnel na segunda mais segura cadeia da Europa, em Alcoentre, e dali escaparam 131 prisioneiros na maior fuga de que no Ocidente há noticia.".
 
 Este é o resumo de uma obra que pode e deve ser registada como um livro de interesse público, contrariando aqueles que tentam com o passar dos anos reescrever a nossa História.
Uma oportunidade única para os mais novos conhecerem a vida de Manuel Vicente da Cruz Gaspar, um lutador anticomunista, um homem de uma coragem impar que regido por ideais políticos, levou uma vida de aventura ao lado de um punhado de valentes com quem comungava esses valores.
Este livro, à semelhança de outros tantos que agora começam a surgir, é uma afronta à versão oficial do politicamente correcto. A descolonização exemplar, levada a cabo por um punhado de traidores, é aqui esmiuçada através do relato dos que sentiram na pele o abandono das províncias ultramarinas. A revolta foi o móbil daqueles que se recusaram a servir de alimento aos tubarões.
Um obrigado a Ricardo de Saavedra por este inestimável presente de Natal.
 
Adenda: É de estranhar que ao contrário da fuga de Peniche, de onde fugiram meia dúzia de comunas com o auxílio dos guardas, a televisão e o mundo das artes ainda não se tenha debruçado sobre o "êxodo" de Alcoentre. Também a vida do traidor que queria em Portugal uma ditadura do proletariado ao serviço da U.R.S.S., me parece bastante mais insonsa e menos exemplar do que a do Comandante Paulo, alguém que amava, ama a sua Pátria.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois. Finalmente a minha geração ( os que eram pre adolescentes em Abril de 1974) bem como os que ja nasceram após aquela data e que ja sao adultos ha muito tempo, podem ter acesso nao filtrado pelos complexados de esquerda, e da historia encomendada por traidores, que ironicamente, fazem hoje parte de uma imensa brigada de reumático.
Lembro me muito bem de caixotes amontoados à beira rio, lembro me muito bem de ver o Rossio coalhado de gente no verao de 1975. Quem passar pelo Largo de Sao Domingos pode ali ver reunidos antigos soldados portugueses oriundos da Guiné que foram obrigados a voltar para nao serem fuzilados durantes as purgas independentistas.
Portugal. Continua a ser grande e nao se espurga este grande país com um povo excelente com muitas historias mal contadas.

Filipe Almeida