Dino Buzzati é por muitos
considerado como o melhor escritor italiano do século XX. Se não é unânime esta
afirmação já a escolha de O Deserto dos Tártaros como a sua obra-prima não
apresenta contestação.
Buzzati nasceu em 1906 em San
Pellegrino. Licenciado em Direito, serviu no Exército italiano antes da II
Guerra Mundial. No decorrer do conflito foi correspondente da Marinha italiana
no em África. Viria a falecer no ano de 1972 vítima de cancro.Criador de uma vasta obra, o seu romance de referência foi escrito tendo por base a sua experiência militar, adquirida durante a década de 30 e 40 do século passado. Não se enganem porém, aqueles que julgam que O Deserto dos Tártaros é apenas um romance militar. É uma narrativa profunda onde as questões filosóficas adquirem importância fulcral no desenrolar da acção.
Giovanni Drogo é um oficial saído
da Academia Militar e colocado num posto avançado da fronteira. Desiludido com
a sua sorte, pede a transferência da fortaleza remota, na vã esperança de fazer
cumprir os seus sonhos de glória, iludindo desta forma o destino. Este todavia
não se compadece do jovem tenente e transforma o projecto de uma carreira
ambiciosa numa monótona e trivial existência.
Drogo acaba por se render ao
magnetismo do local onde cumpre religiosamente as suas funções e espera pelo
inimigo que teima em não aparecer. Acomodado pelo quotidiano castrense, as
oportunidades de abandonar o inóspito reduto acabam por surgir, embora o nosso
herói já não esteja em condições de as aproveitar.
As semanas passam a meses e os
meses a anos. O nosso jovem tenente é agora um idoso e debilitado major quando
do norte surgem as hordas de inimigos à muito esperados. Ironicamente, já não
está em condições de cumprir o seu dever e é afastado antes do início da
batalha. Morre pouco depois de deixar o seu posto, no caminho de regresso a um
lar que já não era o seu…
Uma obra que é um hino à estrada
da vida com as encruzilhadas e as cancelas invioláveis que se fecham após a
escolha de um dos caminhos. Ao tempo que de forma cruel marca o ritmo do
percurso… percurso acidentado pelas trapaças do destino e pelas falhas que a
condição humana impõe.Um livro que desencadeia no leitor pensamentos sombrios sobre o trilho percorrido e o que falta percorrer, até ao destino final que será invariavelmente a morte.
Um grande livro, um desafio à
capacidade de introspecção de cada um.